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Salvador
Segunda, 19 de fevereiro de 2007, 20h29 
Grupos afros de Salvador passam "humilhação" para captar verbas
 
Reinaldo Marques/Terra
Filhos de Gandhy tem um orçamento de R$ 1,1 milhão
Filhos de Gandhy tem um orçamento de R$ 1,1 milhão
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Maior bloco de afoxé do mundo, o grupo Filhos de Gandhy reduziu quase que pela metade seu orçamento de Carnaval 2007, por problemas de captação de recursos. Outras 46 entidades negras também passam dificuldade, após ficar sem a verba da prefeitura captada através de leis de incentivo.

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"Nossos fornecedores de toalha, tecido, alfazema ainda não foram pagos, foi na confiança, vamos pagar depois", disse o diretor de marketing do bloco, Orlando Santos Pereira.

O Filhos de Gandhy, que já teve como vice-presidente o ministro da Cultura, Gilberto Gil, completou neste Carnaval 58 anos. Na saída de domingo, mais de 9 mil homens transformaram o circuito de Campo Grande em um enorme tapete branco, devido às roupas brancas que usam.

Segundo Orlando, o Filhos de Gandhy tem um orçamento de R$ 1,1 milhão para todo o Carnaval, incluindo as três saídas do bloco, mas neste ano só arrecadaram R$ 600 mil. Eles têm a indumentária mais cara da folia, com 16 itens. As peças são distribuídas para a comunidade e vendidas para foliões de fora por R$ 250.

"O Carnaval cultural está sendo desprestigiado, está sumindo. Ninguém mostra na TV a humilhação que as entidades negras estão passando na porta do poder público, das empresas privadas", disse Orlando.

O Carnaval baiano surgiu a partir dos desfiles de grupos afros e afoxés, em uma cidade cuja população é 87% negra.

O coordenador financeiro do Coletivo de Entidades Negras, que reúne 46 grupos, também denuncia o descaso, que se aprofunda a cada ano. Segundo Ari Sena, a prefeitura só pagou em fevereiro deste ano as duas últimas parcelas da cota do Carnaval passado, de R$ 110 mil.

A cota deste ano, de R$ 700 mil para todas as entidades, captada através de leis de incentivo à cultura, só será repassada depois da festa, garante a prefeitura.

"Várias entidades ficaram sem fantasia, sem trio, e assinaram um monte de pré-contratos. Como vão ficar as multas? Vai ser um imbróglio que só se resolve na justiça", disse Ari. Segundo ele, pelo menos 20 grupos estão seriamente prejudicados.

Um exemplo é o tradicional bloco do Cortejo Afro, que em anos anteriores recebeu a visita do artista norte-americano Matthew Barney e sua mulher Bjork. No desfile da segunda-feira, o bloco chegou a colocar uma placa de vende-se no trio elétrico para saldar as dívidas de cerca de R$ 80 mil.

"É preciso que se abra o caixa do Carnaval, para ver como ficam as entidades negras, que historicamente ficam à margem do desenvolvimento do Carnaval", disse Ari, reclamando dos patrocinadores que só querem investir em blocos e camarotes frequentados pela "classe hegemônica da socidade".

A principal patrocinadora do Carnaval de Salvador, a cervejaria Nova Schin, investe em 16 blocos carnavalescos e em oito camarotes. Destes, há apenas um afoxé, o próprio Filhos de Gandhy. A empresa trabalha o ano todo com o grupo, e no Carnaval libera R$ 120 mil em produtos.
 

Reuters

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