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Salvador
Domingo, 18 de fevereiro de 2007, 07h31  Atualizada às 07h55
Cordeiras da Bahia reclamam de preconceito
 
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Quando Iracilde Araújo, 34 anos, pulou Carnaval pela primeira vez em Salvador, não havia essa história de corda, com folião-pagante separado da multidão-pipoca. Hoje, 16 anos depois, ela trabalha no fogo cruzado, carregando a corda e vendo seus artistas prediletos de perto.

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Há na folia baiana cerca de 85 mil cordeiros, que recebem em média R$ 20 para fazer um percurso de pelo menos quatro horas. Em bloco popular como o Nana Banana, há 800 cordeiros para levar 4 mil foliões que chegam a pagar R$ 800 cada.

"A gente se diverte, mas a merenda é horrível e o dinheiro, miserável", diz Iracilde, segurando a corda ao lado de suas amigas, esperando para ver o Araketu.

"Na pipoca, às vezes batem na gente, e é horrível porque não dá pra revidar, não dá pra deixar o posto", explica Iracilde, que tem cinco filhos e está recebendo R$ 96 por seis dias de trabalho.

Ivete Sangalo é a rainha das cordeiras, segundo sua amiga Vera Lúcia Souza Silva, 20 anos, que tem dois filhos. "Ivete olha para você, fala com os cordeiros, agradece, ninguém faz como ela", diz.

Enquanto as duas amigas conversam, descrevendo o suco azedo, a água quente e as bolachas murchas que recebem de lanche, o trio elétrico liga os motores, com um cheiro forte de fumaça contaminando o local. O empurra-empurra da corda também não deixa ninguém parado, e isso porque o show nem começou.

"Tem muito preconceito também, ninguém fala com a gente, é tudo metido", diz Vera, apontando para os foliões-pagantes. "Quando a gente pergunta a hora, eles pensam que a gente quer roubar relógio. É tudo nariz empinado."

Simone Santa Isabel Santos, 33 anos, trabalha há oito anos como fiscal de cordeiros. Ela explica que há blocos que não trabalham com mulheres por acharem que são "frágeis", mas quando autorizadas, elas são a maioria.

"Mulher é obediente, e homem é mais esquentado", disse Simone, que trabalha nos blocos Cocobambu, Gula, Skol d+ e Ilê Aiyê. "Minha responsabilidade é muito grande. Se dão um murro nelas, a responsável sou eu", disse, enquanto recolhia cópias de RG dos cordeiros. "Teve um ano que um cordeiro levou um tiro. Desde então, sempre tem PM à paisana nos meus blocos."
 

Reuters

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