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Salvador
Sexta, 9 de fevereiro de 2007, 12h40 
Cordas e ritmos musicais separam mundos no Carnaval
 
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A vista panorâmica do Carnaval de Salvador, com seus 2 milhões de foliões atrás dos trios elétricos, pode apavorar qualquer turista de primeira viagem. A festa, no entanto, tem um mapa próprio, traçado por classes sociais, cordas e ritmos musicais que vão além da axé music.

Araketu ensaia para Carnaval com vocalista do Motumbá

São 25 km de avenidas e ruas de Salvador que param para criar três trajetos para as mais de 200 entidades carnavalescas, entre blocos de trio, grupos afros e afoxés. Entre os 2 milhões de foliões, 1 milhão é de turistas, incluindo 457 mil de fora da Bahia e 96 mil estrangeiros, que arrastam a folia por seis noites, a partir de quinta-feira.

Para o sociólogo e professor da Universidade Federal da Bahia Milton Moura, há mais brancos e ricos curtindo o Carnaval na Cidade Baixa devido aos hotéis e infra-estrutura da região, e uma predominância de negros e mestiços na Cidade Alta.

"Há todos os estratos da sociedade, mas não propriamente misturados, eles estão adjacentes. Você tem tudo o que quiser, mas em diferentes concentrações", explicou.

"Há uma concentração programada, você fica perto de seus hotéis na Barra-Ondina, onde tem muito mais iluminação, onde a segurança é mais bem cuidada e onde a prefeitura investe muitíssimo mais", disse.

Na Cidade Baixa, fica o trajeto Dôdo, do Farol da Barra à Ondina, na avenida ao lado da orla. Já o maior e mais tradicional circuito, chamado Osmar, fica na Cidade Alta, em Campo Grande. Na mesma região, está o circuito Batatinha, no centro histórico do Pelourinho.

Pipoca X Corda
Além dos circuitos, o mapa do Carnaval de Salvador também está dividido entre os que pagam para curtir a folia dentro dos blocos ou dos camarotes, e os que pulam de graça na chamada "pipoca" - fora das cordas que reúnem o público pagante.

O advogado paulista Fábio Silvares, 30, se prepara para seu quarto Carnaval baiano e é do time dos que pagam. O preço de um abadá - camiseta que identifica o folião pagante - pode variar de RS$ 60 a RS$ 2.520 para três dias.

Ele costuma voltar do trajeto dos blocos para o começo do circuito pela pipoca. "Mas não é muito aconselhável. Sempre tem alguém querendo briga, tem assalto, mas a maioria vai para curtir", disse. "A pobreza é muito grande, você percebe a diferença, são dois mundos separados pela corda."

O governador Jaques Wagner (PT) contou que saía na pipoca quando jovem e que, por isso, entende a importância da ajuda do Estado à Prefeitura, que este ano será de R$ 24 milhões, para "permitir a participação do folião que não pode comprar abadá ou camarote", afirmou ele esta semana.

Segundo Moura, que até hoje pula na pipoca, a corda surgiu já nos anos 1940, para que grupos de amigos não se perdessem na multidão. Foi apenas em meados dos anos 1980 que a corda passou a ter o papel de separar o público pagante. Atualmente, a corda é segurada pelos chamados "cordeiros", que chegam a empurrar os foliões da pipoca para garantir mais espaço aos pagantes.

"Aumenta tudo, menos a largura das ruas", disse. "O folião da pipoca se espreme, se espreme, mas vê tudo de perto, não tem despesa nenhuma e vê todos os artistas", disse Moura.

Os ritmos musicais e a popularidade dos artistas também contam na hora de traçar os caminhos do Carnaval, que reúne tribos de adoradores da música eletrônica, rock e reggae.

O bloco do DJ britânico Fatboy Slim, que volta este ano, teve um perfil bem atípico em 2006, com um público estrangeiro em grande peso. Segundo a produtora Alice Coelho, 18 anos de experiência no Carnaval baiano, a diversidade dos ritmos ajuda a manter a diversidade da festa.

"Você consegue satisfazer mais os desejos. A comunidade reggae, por exemplo, que teoricamente não iria para o Carnaval, você acaba propiciando para eles o som que eles preferem. Então, isso agrega um público novo", disse.

Enquanto uns se espremem, outros curtem o Carnaval com ar condicionado, longe da bagunça das ruas, nos mais de 60 camarotes. A maioria é instalada na Barra-Ondina, e o preço para as seis noites pode variar de R$ 710 a R$ 1830.

O público dos camarotes tem uma faixa etária um pouco superior, assim como o poder aquisitivo. Além da vista privilegiada, há curiosidades como salão de beleza, boate climatizada, palco para shows, Internet e até massagem.
 

Reuters

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